quarta-feira, 13 de março de 2013

Madame


Onde eu vou nesse bairro escuto teu nome.
Sussurrado, calado, em olhos familiares,
Em pernas à mostra em qualquer esquina,
Em bocas, vestidos, corações e colares.

Não foste trocado, não foi por égua,
Foste iniciado, na vida que exige vida.
E não por tantos amores - proibidos,
Foste culpado, não, menina atrevida!

E não sentiste o que sua cor te deu.
Eu sei que entre rabos de arraia,
Martelos e gingas... viveste só,
Cuidando, das moças de mini-saia.

Tua cara pintada não foi política,
Não foi revolução ou falta de respeito,
Foi vontade de ser teu próprio,
De ter quem tu quisesse no leito.

Tua cara pintada coloriu a Lapa,
Tirou todas as coroas do Carnaval.
Não te impediste de ser coroado,
Ser negro, pobre, ser homossexual.

Pena que não viveste para ver,
Mudaste o mundo. Idolatrado.
Passaste a ser, nobre e herói,
Exemplo do bom tempo passado.

E sempre que ando por essas ruas,
Vielas, ladeiras e escadarias,
Penso em como eu poderia viver.
Ou melhor, em como tu viverias.

Onde eu vou nesse bairro escuto teu nome.
Escuto e sorrio com alegria vã.
Sei quem és, sempre soube, sempre saberei,
Teu nome há na História - Madame Satã.

sábado, 9 de março de 2013

A paixão é Exotérmica

Vem batuque no terreiro
Ou no fundo do quintal
Ao primeiro toque do pandeiro
Já faço meu Carnaval

E por falar na festa de Momo,

Vem Butano na Bureta
Que eu solto a Bailarina
Vem fada e borboleta
Portela, Império e Estudantina

Quero viver assim, dormir criança...

Acordar na Pedra do Sal
Boemios de Irajá, folhas secas na Mangueira
E desce também do Vidigal
Mulata, já com as mãos nas 'cadeira'

E minh'alma não nega...

Na avenida, me toma a alegria
Sigo meu bloco, como procissão
Minha Exotérmica, minha diretoria
Bate e acompanha meu coração

Apita o mestre...

Bate surdo, primeira, segunda, terceira,
Bate repique, paradinha, volta a tocar
Me arrepio, é 'verdade verdadeira'
Nasci mesmo, foi pra sambar...

quarta-feira, 6 de março de 2013

Navalha


Mas não me tome por malandro, tampouco canalha
Mesmo entregue à vida mansa
Não uso bigode fino e nem trago navalha

Ando sim na ponta dos pés, mais por consideração
Mais para não acordar a criança
Que feliz, hoje, dorme no meu coração

terça-feira, 5 de março de 2013

NOSSA VIDA

Nossa vida 

Quando a gente é criança
A gente mama, a gente chora, a mãe cansa.
Não reclama do fardo, só bem-aventurança.
Ah, França ! Quando a gente é criança ...

É só crescer mais um pouquinho, e pronto !
Começa aquela lambança:
Corre para um lado, corre para o outro
É braço quebrado, Zefiro atropelado.

Um susto danado, menino levado !
Cresceu amargurado, na época do lavrado, 
do casamento terminado, de fato, 
O avesso. De papel passado.

Já quando a gente ficou adolescente, 
(se é que ainda não estamos)
nós, então, ganhamos um presente:
uma escola inteira, onde nos amamos.

E não é qualquer amor não, 
desses de filme de Hollywood
(nunca gostei dos "Hollywood")
É o amor dos Derby's, de time do coração.

E foi de lá para o mundo: México, Uruguai.
Cada um onde pudesse tê-las.
Na estrada, seguindo com o Pai.
Com o irmão, o teto de estrelas.

É mais difícil crescer, para nós
que tivemos aqueles sonhos
vontades, desejos e planos,
E, às vezes, parece estarmos sós.

Mas não estamos.

É França... quantas lembranças...
Mas não somos mais crianças.
O trem passa e o mundo gira
E a vida, bailarina, gira nas danças.

Thiago Zefiro