quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O rei mandou, cair dentro da folia...


Aquela coisinha

Se for parar pra ver, todo mundo tem aquela coisinha, que nada tira dela. Nem o tempo, nem a mulher, nem os pais, nem os filhos, nem os médicos. Essas coisas são engraçadas, por que as vezes, esse nem é um traço tão marcante da personalidade da pessoa, nem é o algo amais que faz dessa pessoa inesquecível para os que estão em volta, nem é aquela coisa que sempre rendeu brigas por contrariedade. Simplesmente aquela coisinha é tão grande, que ela não se manifesta claramente, e só vai ser percebida num comentário saudoso de um dos poucos que ainda restam vivos.
            Ou, é aquela parada arrebatadora que a pessoa exala por cada poro do corpo, aquela coisa que é tão referencia da pessoa, que até a mãe – pessoa mais intima não existe – o conhece por isso. Aquela parada que quando se fala seu nome, a primeira coisa que vem na cabeça de quem está ouvindo é justamente aquela coisinha, que ninguém tira da pessoa.
Ou é aquela parada que fica no meio termo durante sua existência, que alguns se recordam outros não, que alguns sabem e outros não, que alguns veem e outros não, mas que quando põe pra fora, todo mundo, repito, todo mundo, sai da frente por que a partir dali, não dá mais pra parar.
Aquela coisinha.
Um dia, me tiraram a chupeta, eu chorei pra caralho... Queria a minha amiga inseparável, chorava, esperneava, gritava, não deixava ninguém dormir... Às vezes eu conseguia de volta, as vezes não, e o tempo foi passando, e eu mesmo esqueci dela. Depois veio meu "gugu", aquele bonequinho de pano almofadado que as crianças carregam – alguns é só um lençolzinho de estimação mesmo – e que também me foi tirado. E que também me tiraram.
Conforme eu fui crescendo, tantas coisas vieram e se tornaram essenciais à minha existência, ao meu entendimento de mim mesmo como pessoa, que impossível eu viveria sem... Também me tiraram, com a desculpa de que eu já não tinha mais idade. E também eu me acostumei, acho que porque eu cresci não me importei mais.
Muitas coisas serão dessa maneira, carros, dinheiro, empregos, relacionamentos, meus pais a vida se encarregará, meus filhos o Axel Rose ou a Madonna irão tirar de mim, meus prazeres, minhas diversões, meus passatempos... Tudo será tirado de mim, e eu vou me acostumar, e conforme o tempo passa, passarei a não me importar. Sinal de que cresci.
Algumas coisas serão compulsórias. Minha médica me proibiu de beber, proibiu de me entupir de carne gordurosa, de pizza, de putaria, de doce, de noites em claro jogando war, ou poker, ou strip-poker, ou strip war, ou só strip. Até o pão nosso de cada dia, devido a problemas de saúde devidamente diagnosticados, e como a doutora diz, muito antecipadamente para minha idade, me foi tirado.
Mas depois de tudo isso, de tudo me ser tirado, na ordem natural das coisas, depois que eu nada tiver de meu nessa existência, nem minha vida, as pessoas vão falar de mim, e pros poucos que conviveram comigo e ainda possuírem boa memória para ter qualquer saudosismo, irão falar daquela coisinha, que independente do que houve ninguém nunca me tirou.
Ninguém, mas ninguém mesmo, nem mesmo o criador, me tira meu Carnaval.

Deixa, amor! (Paulinho Cerezo)

Deixa, amor! (Paulinho Cerezo)


Amor,
Vamos esquecer da poesia?
Sente o cheiro da maresia,
Bebe esse copo n'um gole,
Corre na chuva comigo,
Mas deixe p'ra lá os versos!

Contigo sonho também,
Sonho muito,
Mas vivo mais,
- e vivo bem!
Deixa o sol molhar
Nossa camisa,
Nos acordar com a sua luz,
Dá-me um sorriso,
Mas larga mão dos poemas!

Não te quero no papel,
Nem há o que não te diga.
Com a pena na mão
Já menti muito
(O poeta é um fingidor,
Não lembras disso?).

Às letras, não,
Não lhes dê bola!,
Que, contigo,
Meus olhos dizem mais
- e melhor.