quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Menino

Eu durmo de ponta cabeça
Na cabeceira, meus pés,
E neles os sonhos... 

No pé da cama, o travesseiro
E o cuidado para nao cair,
O braço pendurado pra me segurar

E minha vida passa e isso nao muda
Vivo aos avessos, contra a mare
Fazendo meu caminho, uma contra-mao...

Em campo quero ir pro gol
O coraçao deixo nos bordeis
Beijo, e sonho, de olhos abertos

Meu dinheiro é diversao de terceiros
Só nao fujo do que é natural
No sol queimo, na chuva molho
Mas no resto, sou eu que mando


E hoje, tenho casa... mas sou só um menino...

domingo, 20 de outubro de 2013

Amores - Parte II - Volta para casa


A chave fez um barulho ensurdecedor na fechadura. Era a pior coisa que poderia acontecer à Talita naquele momento. Ela tentou conter o barulho que era pior que o de uma torcida ensandecida com o gol salvador no fim do jogo. Como um enxame de abelhas raivosas querendo vingar a morte de sua rainha. Mas esse barulho só acontecia aos ouvidos de Talita. A realidade era diferente. Esse barulho com certeza não acordaria sua mãe Irene. Ela continuaria dormindo calmamente se não fosse por um simples detalhe: Dona Irene estava acordada esperando Talita.

O leitor agora poderia pensar: Tenho uma mãe assim! Claro, todos temos. Mas Dona Irene era pior. Por que pior? Por que Talita era, como diziam seus avós, complicada.

Talita mal fechou a porta e Dona Irene não tardou a fazer um barulho com seus chinelos no chão para atrair a atenção da filha. Aprumou-se em sua cadeira, pigarreou forçadamente e não resistiu:

- Espero que você não esteja bêbada.

- Oi mãe. Não estou não. – E tentou ir para o quarto que ficava a poucos passos que seriam difíceis de completar nesse momento.

- Mas você bebeu! Eu sinto daqui.

- Sim mãe. Só um pouquinho. – E Talita manteve foco em, sorrateiramente, ir para seu quarto.

- Volta aqui Talita! Eu quero conversar.

Talita voltou. Indócil. Incomodada. Não era possível que sua mãe seria tão ridícula a esse ponto.

Agora o leitor sendo um filho pensaria em quantas vezes teve que passar por essa situação estapafúrdia. Sendo um pai pensaria em por que os filhos fazem isso e o obriga a tomar atitudes como essa. Bom, são as regras. Jovens as quebram, adultos as fazem. Pais as fazem cumprir. Ou tentam o melhor de si.

- Fala mãe! O que você quer?

Dona Irene se aproximou de Talita e fungou profundamente. Seus olhos se perderam no espaço, no chão. Tornou a erguê-los e olhando para Talita disse:

- Você dormiu com alguém?

- Sim. E não seja antiquada. Eu não dormi. Eu transei mãe. Por quê? Não posso?

- Filha, (e um breve momento de ternura dominou Dona Irene) você não pode dormir com rapazes que você mal conhece. Não pega bem.

- E por que não pega bem? Eu faço o que quero mãe. Eles não fazem o que querem?

Aproveito agora então, para descrever Talita. Talita era linda. Mas o importante realmente não era isso. A parte física de Talita é o de menos, mesmo que ela fosse considerada uma pintura de Caravaggio ou uma escultura de Rodin. O que importava mesmo era o que era Talita. E ela era mágica. Eclética. Espontânea. Alegre. E tinha um Rodin, um Caravaggio, um Strauss (e às vezes um Metallica), um Fellini (e em grande parte um Woody Allen) e por que não um pouco até de Lavoisier dentro de si. Talita era uma Madame Bovary do século XXI! Mas era incompreendida. Atrozmente podada. Ferozmente limitada.

- Mas filha. Você não pode. – e Dona Irene passou a se incomodar com a postura da filha – Eles podem. Você não. O mundo é assim.

- Não mãe. Não é. Foi o seu mundo. Meu mundo é diferente. Assim como o seu foi diferente do da sua mãe!

- Minha filha, assim você fica parecendo uma piranha. Daqui a pouco você vai ser mal falada pela vizinhança.

- Mãe, não importa. Eu quero os mesmos direitos e mesmos deveres de qualquer pessoa. Quero ser igual. Quero poder fazer o que quero na hora que quero.

- Não! Não é assim. Minha filha não vai ficar solta por ai. Como uma qualquer, fácil, que não se importa com o que as pessoas vão dizer. Assim você não vai se casar.

- Não seja hipócrita. Você era divorciada e ainda assim meu pai ficou com você. Pelo que você era. Não pelo que a sociedade dizia o que você era.

Outra pausa se faz aqui para o leitor entender. Talita havia perdido o pai há três anos. Ela tinha apenas quinze anos e sua irmã cinco. E ao contrario do que alguns poderiam imaginar, o comportamento e personalidade de Talita não foram afetados significativamente pela perda. Ela sentiu a falta do eterno ombro amigo, como a maioria também iria sentir, mas não alterou radicalmente nada do que Talita foi e é.

- Nunca repita isso! – Dona Irene levantou a mão em riste ameaçando passar dos limites verbais. – Você não tem esse direito!

- Direito de que? De dizer o que penso de você? Direito de me defender das suas acusações? Sim eu tenho. Sou uma pessoa. Eu transo com quem quero e quando quero. Seja meu namorado ou alguém que conheci hoje. Não importa. Isso não me diminui e não da direito a ninguém de me diminuir. Nem você nem ninguém.

Dona Irene viu que esse caminho não era a solução. Apelou para o emocional. Arriscando um ultimo argumento falou:

- E amor minha filha? Desse jeito você nunca vai conhecer o amor. Amores rápidos não são amores. Perdem-se no tempo facilmente. E ninguém gosta de saber que não é especial. Que você não tem nada a oferecer que seja único. Já pensou nisso?

- Mãe, eu não estou oferecendo nada a ninguém. Não quero nada em troca. Não estou me vendendo. E amo toda vez! Se amo muito, repito. Se amo pouco, esqueço. Amor é uma sequencia de pequenos amores que se completam e se unem em um amor só. E um dia vou encontrar um amor desses como todo mundo encontra. Por que sou uma pessoa com defeitos e virtudes que vai se encaixar com outros defeitos e virtudes.

Talita deu uma pausa e falou para sua mãe enquanto beijava levemente sua testa:

- Mãe, eu sou feliz. Isso que é importante. Eu sei que você se preocupa. Mas deixa eu ser feliz. Eu te amo.

Dona Irene fez menção de responder, mas Talita já havia entrado em seu quarto. E ali, sozinha no corredor que unia a sala dos quartos ela balbuciou quase para si:

- Eu também te amo minha filha.

E caminhando ate o quarto abriu a porta de Camila, sua filha mais nova e a viu dormindo tranquilamente. Foi para o quarto e se deitou. E quase pegando no sono Dona Irene sentiu a aproximação de Talita.

- Mãe. Eu entendo seu amor de mãe. Você quer o melhor pra mim. Entendo seu amor, entendo sua proteção. E você está certa. Obrigado por isso. E vou te contar a verdade. Hoje não dormi com ninguém. Fui me encontrar com Marcos. Vamos ficar juntos.

- E ele é um bom rapaz?

- Acho que me ama. E eu amo ele. E mãe, preciso mais do que nunca de você. – a voz de Talita começava a embargar e lagrimas corriam de seus olhos. – Você vai ser avó.

Dona Irene abriu um sorriso imenso e seus olhos se entregaram à felicidade. Seu peito ardia de soluços. E as duas se abraçaram firmemente. O Amor, em todas as suas formas e em todas suas intensidades estava agora transbordando nesse simples abraço.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A mentira

A mentira, que chamam Paixão
É mais o que o Poeta inventa
É mais dele uma criação
É disso que su'alma se alimenta

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Amores - Parte I - Fatima


Fátima.

O que eu pensava quando ouvia esse nome? Com certeza era na minha antiga colega de escola. Tanto tempo se passou e eu nunca mais soube dela. Disseram que havia voltado pro Maranhão. Que havia virado modelo em Paris. Que simplesmente mudou de bairro e havia se casado com um policial.

Pensar era o mais simples. Sonhei tantas vezes com ela. Com nosso único beijo perto da agencia bancaria que ficava do lado do colégio. A agencia ficava recuada, o que para nós, garotos, era suficientemente escondido. Ilusão. Não poderia ser mais explicito, mas sinceramente não importava. A pele escura de sol, os cabelos cor de mel queimado, o sorriso branco e largo. Era incrível. Nunca achei que a veria novamente. E eu, com certeza, estava enganado.

A cerimônia havia terminado e a festa começava. Meu irmão estava tão feliz e encantado com sua noiva. Alias, Paloma era linda, perfeita. Era feita para meu irmão e meu irmão feito para ela. Era impossível traduzir a felicidade nos olhos deles e de todos os convidados. Fui olhando cada um deles. Cada rosto trazendo consigo um nível de amizade e intimidade. Todos, sem exceção, demonstravam sua torcida e seus agradecimentos aos noivos. Incrível como eu conseguia estar mais feliz que todos. Até que meus olhos cruzaram os dela. O mundo parou. Ficou opaco. O som sumiu. Pensei em Tom Jobim: “e eu me esqueço ate do futebol”. Notei que ela estava com um amigo de trabalho do meu irmão. Eu não o conhecia. Mas a mulher que o acompanhava simplesmente me tirava do lugar. Sem razão tirava, girava e recolocava meu eixo.

Eu já não sabia o que fazer, mas precisava falar com ela. Dizer que ainda a amava. Que o amor que eu senti no primeiro beijo ainda ardia dentro de mim. Como se a vida não tivesse sido justa. Será que ela sentia o mesmo? Será que nosso amor enfim seria real? Meu deus, como pode isso? E como fica minha vida? Eu acabei de me reconciliar com Amanda. E a Julinha e o Paulinho? Será que eles aguentariam outra briga? Outro rompimento? Será que eu não estaria sendo infantil? Buscar amor verdadeiro seria infantil? E eu amo Amanda, mas...sempre esses mas...será que o mas não deveria ser  ‘amo Amanda mas fim’?

Aproveitei o momento que o companheiro de Fátima havia ido ao banheiro e andei na sua direção. Tomei coragem. Era a hora.

***

 

Eu estava aflita. Assim que entramos na igreja eu o vi ao lado do Noivo. Padrinho dele. Irmão dele. Inacreditável. E eu não se lembrava do nome do irmão e por isso aceitei desprevenidamente o convite. E agora eu estava com o corpo todo tremendo. Em chamas. Nosso primeiro beijo. Mágico. Intenso. Sexy. Eu não consegui encontrar outro beijo igual. Eu amava meu marido. Ele era um ótimo companheiro. Conseguia me fazer feliz. Diferentemente dos meus outros namorados. Que me queriam pelo corpo e não por mim. Só corpo. E por isso nunca houve entrega.

Eu me lembro da tristeza que senti quando tive que voltar pro Maranhão, e deixa-lo. Não existia um único pedaço de mim que não havia se fechado para amor. E quando fui ser modelo em Paris, um mundo novo apareceu. Novas experiências e novas pessoas. Pensei que poderia estar livre para amar e amei um pouco, claro, mas sofri bem mais. E essa vida me cansou. Voltei e pensei em procura-lo. Tentar reviver a paixão. O encontro místico que aconteceu naquela agencia bancaria ao lado do colégio. Mas não tive coragem. Por quê? O que meu deixou tão insegura? O que me fez recuar? Eu não tinha nada e nem ninguém. Nem os conselhos de minha mãe eu tinha mais. Era buscar os braços dele.

Meu marido me olhou sorrindo. Dizia que estava muito feliz de ver seu amigo casando. E que estava repensando festa na igreja. Que momento para ele me dizer isso. Fiquei feliz claro. Mas nada era igual nesta noite. Nesse momento, do outro lado do salão, vi nossos olhos se cruzarem. O tremor aumentou. Eu já não conseguia me concentrar. O que eu deveria fazer agora? Ele tinha uma companheira e duas crianças se jogavam com tanta felicidade em seu colo. Seria justo uma família feliz se desfazer por um passado? E será que ele aceitaria criar uma terceira criança? Não acreditava que eu havia pensado nisso. Eu, grávida, pensando em cair nos braços de outro homem. Assim sem remorso. Será que o amor muda tanto assim nossa visão de realidade?

Jonas havia ido ao banheiro e eu estava sozinha. Com frio. Perdida. E eu o vi caminhar na minha direção. Decidi ir ao seu encontro. Tomei coragem. Era a hora.

***

 

Carlos e Fátima caminhavam um em direção ao outro. O salão apesar de espaçoso não era grande, porem para ambos pareciam quilômetros a serem percorridos. O tempo parecia passar mais rápido que o normal e ambos pensavam se o mundo havia parado para vê-los. Se alguém iria desconfiar daquele encontro prestes a acontecer. Perguntavam-se qual seria a primeira reação. O que iriam dizer um ao outro. E finalmente se encontraram tão perto que poderiam se tocar e Carlos disse:

- Boa noite.

- Boa noite. – respondeu Fátima.

Carlos continuou sua caminhada agora em direção aos seus amigos que estavam contando piadas em uma roda próxima. Fátima por sua vez continuou sua caminhada em direção à porta do banheiro masculino. E depois de tanto tempo de espera ambos pensaram ao mesmo tempo:

‘É tão ruim que a vida não é só o que queremos. Nada é tão simples.’

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Mistérios

Menina de risos espontaneos
Atravessando uma rua
Rindo sozinha
Falando sozinha
Perdida no infinito
de si mesma...
Mão nos cabelos enrolando cachos
Acariciando a nuca
Olhar perdido no infinito,
Mordendo os lábios
Batimentos acelerados
Rindo sozinha...
Em meus olhos está nua,
Mas, e nos seus, como estará?

sábado, 12 de outubro de 2013

Primeiro na de fora

Tristeza, tristeza, eu não ser seu...
Sempre o último a ser escolhido
Sempre só, chorando escondido
Sem ter o que quero que seja meu

Em outros braços, goza e sorri
Me fere o peito sua felicidade
Rondo à noite minha cidade
Se me perguntarem, diga que morri!

Mas ao ver-te de novo, algo muda
Esqueço a tristeza, só vejo a beleza
Perdoo a minha própria fraqueza
Não quero que ninguém me acuda

Mesmo sabendo que não é minha hora
Me penteio, me arrumo, envaideço
E vendo-te com outro, fortaleço
Do banco grito: sou o primeiro na de fora...

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

As belas

Saíram para pescar, as velas
Não do Mucuripe, mas de outro lugar
De onde as vejo, são belas
São belas, não importa em qual mar

Destinos marcados por estrelas
Não se sabe, nunca, quando voltar
Mas não importam as procelas

Enquanto há amor, há de se regressar

domingo, 6 de outubro de 2013

Amizades - Parte I - A Andorinha e o Garoto

Amizades - Parte I - A Andorinha e o Garoto


O relógio marcava aproximadamente quatro horas da tarde. Era quinta-feira e eu estava novamente na rua onde percebi o menino pela primeira vez. O menino estava crescido, mais experiente, diferentemente de antes quando apenas um pequeno garoto. Mas ele estava ali presente, grande, mudado, mas ainda o mesmo menino. Lembro-me com detalhes daquele nosso encontro. 
***
Andava rapidamente quando percebi o menino inquieto e desconcertado. Insipiente e triste. Como muitos garotos de sua idade, claro, mas de uma forma mais intensa. Com mais calor e bravata. Com cuidado perguntei ao garoto:
- O que aconteceu com você Garoto?
- Eu perdi minha Andorinha.
- Como assim perdeu, ela não fica em uma gaiola?
- Não! – respondeu com incredulidade e aspereza à minha pergunta. – Somos amigos e amigos não colocam outros amigos em prisões. O problema é que foi o que fiz no fim das contas.
- Não entendi muito bem Garoto. Conte pra mim o que aconteceu. – Nesse momento lágrimas sinceras porem escuras (pode ser que lagrimas de remorso tenham essa cor) brotaram não só dos olhos, mas como do peito do Garoto.
- Eu encontrei a Andorinha sem querer. Ela era altiva, livre e forte. Não se importava com outros pássaros e suas tradições como a gaivota do livro do Richard Bach. Era ela e o mundo. Sempre foi. E um dia ela pousou pra mim. E descobri que ela falava!
- Falava? Como assim Garoto?
- Ela falava! E sua tagarelice me encantava, intrigava. Ela ia e vinha quando queria. Passou a vir bem mais que ir. Passei a sair todo dia à espera da minha Andorinha. E de seus voos, suas acrobacias. Mas um dia, atordoados sentimos solidão um com o outro. Sentimos distancia. E cometi um dos maiores erros que poderia cometer: fui além.
- Além? – perguntei.
- Isso. Eu a sequestrei pra mim. Quebrei sua asa e a enjaulei comigo. Ela ainda ia e surpreendentemente ainda voltava. Mas eu já havia maculado tudo. Eu senti tanto receio de não poder ver seus voos acrobáticos e ouvir sua voz, seu canto. Não conseguia aceitar que ela era realmente livre. Seus voos começaram a ficar irritantes e sua falsa presença começou a me incomodar. Sentia que ela só voltava por que já havia sentido algo por mim e não queria mudar nada. Senti que era pena. E vi depois que não, que eu estava enganado. Vi que era sincero. Mas já era tarde.
- Por que tarde Garoto? Nada na vida é tarde.
- Já era tarde, eu te digo com certeza. Eu já a havia enjaulado num sentimento de carinho e piedade. De gratidão e distancia. E sua asa quebrada a impedia de voar perto de mim. A cada vez que ela ficava longe sua asa curava e voava alto. E cada vez que ficava perto sua asa murchava. E ela ficava calada. Inerte. Já não saiam palavras, mas pios de melancolia. E por fim parou de falar comigo.
- Nossa Garoto. É bem triste não é?
- Muito – a tristeza se tornava cada vez mais evidente - ainda mais por que no fim de tudo entendi o que aconteceu. Eu quis demais e não soube entender o que era. Decidi que ela ficaria melhor sem mim. Voando alto consigo mesma. Senti que a mudei e queria que ela pudesse realmente ser feliz e reencontrar seu caminho. E vi que era hora de andar o meu. Mas estou triste por que perdi minha Andorinha. E como eu gostava dela.
***
Eu já estava parado há algum tempo observando o Garoto, agora Homem pensativo. Era nítida a maturidade, a clareza de espírito que emanava desse Homem. E depois de tanto tempo o questionei novamente:
- E agora Homem? É nítida sua mudança. Você sabe o que aconteceu com a sua Andorinha? Você ainda se importa?
- Não é minha Andorinha, nunca foi. E o erro começou ai. Quando achei que era dono de alguma coisa. Não existe meu. Não existe ego. Não pode existir.
- Nossa, realmente houve mudança Garoto.
- É, sou Garoto, mas sou Homem. E sim, me importo. Penso que a Andorinha que conheci está bem. Amizade não é escolha de nenhuma das partes. É parecido com amor. Você simplesmente tem, independente da reciprocidade, da dor ou dos erros. Ou sequer de acertos. Amizade é um paralelismo sem igual. Sem diferenças ou semelhanças. Nunca ver, mas existir.
- Então assumo que você ainda é amigo da Andorinha.
O Homem-Garoto não respondeu. Por que essa resposta ele sabe que eu sei. E agora, depois de tanto tempo, eu, o Homem-Garoto ando por ai, em quintas-feiras, perto das quatro da tarde, falando da historia de como perdi a Andorinha e o que aprendi.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Agalopado

Agalopado eu vou, eu vou só pra lhe encontrar

Eu fico vendo as nuvens no caminho que eu tenho a traçar
Não me enganam, não, do meu caminho não vão me tirar
E cada passo dado é pra solidão, me abandonar
Agalopado eu vou, eu vou só pra lhe encontrar

O tempo passa, quando eu vou, o tempo passa devagar
Mas não se avexe não amor, nós vamos nos amar
Não tem légua, égua, régua que vá me atrapalhar
Agalopado eu vou, eu vou só pra lhe encontrar

Vem cá morena, sirena, que no teu colo quero me afogar
Num importa onde, quem te esconde, eu vou te encontrar
E nesse dia, minha alegria, é que ninguém vai se aguentar
Agalopado eu vou, eu vou só pra lhe encontrar

Não tem morro, moinho, represa que vá me barrar
Não tem raio, trovoada, pingo d’água pra me amedrontar
Movo monte e montanha, pedra no caminho vou tirar
Agalopado eu vou, eu vou só pra lhe encontrar

Morena pequena helena, fruta doce do meu pomar
Brinca e dança e roda, nunca paro de te olhar
Dorme e acorda e dorme, e eu a lhe beijar
Agalopado eu vou, eu vou... quando ocê chamar

Voar

Quando eu morrer, não enterrem meu corpo
Que minha carne alimente os corvos
E que para em suas penas eu voe eternamente
Me deixem virar pó

Para isso nasci, para espalhar meu encantamento
Pelos ares ser inspirada minha devoção
Deusas? Deusas, rainhas, plebeias
Todas em uma só!

Prêta

Eu andava quieto em meu mundo
Oh Deus! Me deixasse assim
Agora ando sem luz, vagabundo
Buscando o que não há em mim

Essa sua cor, não é do pecado
Nessa pele, a cor é de prazer
Exala pelos poros
Toda a delícia do seu ser

E de novo, como quando menino
Me pego inocente sonhando
Roubar um beijo de sua boca...

Hei de morrer tentando!