quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Amores - Parte I - Fatima


Fátima.

O que eu pensava quando ouvia esse nome? Com certeza era na minha antiga colega de escola. Tanto tempo se passou e eu nunca mais soube dela. Disseram que havia voltado pro Maranhão. Que havia virado modelo em Paris. Que simplesmente mudou de bairro e havia se casado com um policial.

Pensar era o mais simples. Sonhei tantas vezes com ela. Com nosso único beijo perto da agencia bancaria que ficava do lado do colégio. A agencia ficava recuada, o que para nós, garotos, era suficientemente escondido. Ilusão. Não poderia ser mais explicito, mas sinceramente não importava. A pele escura de sol, os cabelos cor de mel queimado, o sorriso branco e largo. Era incrível. Nunca achei que a veria novamente. E eu, com certeza, estava enganado.

A cerimônia havia terminado e a festa começava. Meu irmão estava tão feliz e encantado com sua noiva. Alias, Paloma era linda, perfeita. Era feita para meu irmão e meu irmão feito para ela. Era impossível traduzir a felicidade nos olhos deles e de todos os convidados. Fui olhando cada um deles. Cada rosto trazendo consigo um nível de amizade e intimidade. Todos, sem exceção, demonstravam sua torcida e seus agradecimentos aos noivos. Incrível como eu conseguia estar mais feliz que todos. Até que meus olhos cruzaram os dela. O mundo parou. Ficou opaco. O som sumiu. Pensei em Tom Jobim: “e eu me esqueço ate do futebol”. Notei que ela estava com um amigo de trabalho do meu irmão. Eu não o conhecia. Mas a mulher que o acompanhava simplesmente me tirava do lugar. Sem razão tirava, girava e recolocava meu eixo.

Eu já não sabia o que fazer, mas precisava falar com ela. Dizer que ainda a amava. Que o amor que eu senti no primeiro beijo ainda ardia dentro de mim. Como se a vida não tivesse sido justa. Será que ela sentia o mesmo? Será que nosso amor enfim seria real? Meu deus, como pode isso? E como fica minha vida? Eu acabei de me reconciliar com Amanda. E a Julinha e o Paulinho? Será que eles aguentariam outra briga? Outro rompimento? Será que eu não estaria sendo infantil? Buscar amor verdadeiro seria infantil? E eu amo Amanda, mas...sempre esses mas...será que o mas não deveria ser  ‘amo Amanda mas fim’?

Aproveitei o momento que o companheiro de Fátima havia ido ao banheiro e andei na sua direção. Tomei coragem. Era a hora.

***

 

Eu estava aflita. Assim que entramos na igreja eu o vi ao lado do Noivo. Padrinho dele. Irmão dele. Inacreditável. E eu não se lembrava do nome do irmão e por isso aceitei desprevenidamente o convite. E agora eu estava com o corpo todo tremendo. Em chamas. Nosso primeiro beijo. Mágico. Intenso. Sexy. Eu não consegui encontrar outro beijo igual. Eu amava meu marido. Ele era um ótimo companheiro. Conseguia me fazer feliz. Diferentemente dos meus outros namorados. Que me queriam pelo corpo e não por mim. Só corpo. E por isso nunca houve entrega.

Eu me lembro da tristeza que senti quando tive que voltar pro Maranhão, e deixa-lo. Não existia um único pedaço de mim que não havia se fechado para amor. E quando fui ser modelo em Paris, um mundo novo apareceu. Novas experiências e novas pessoas. Pensei que poderia estar livre para amar e amei um pouco, claro, mas sofri bem mais. E essa vida me cansou. Voltei e pensei em procura-lo. Tentar reviver a paixão. O encontro místico que aconteceu naquela agencia bancaria ao lado do colégio. Mas não tive coragem. Por quê? O que meu deixou tão insegura? O que me fez recuar? Eu não tinha nada e nem ninguém. Nem os conselhos de minha mãe eu tinha mais. Era buscar os braços dele.

Meu marido me olhou sorrindo. Dizia que estava muito feliz de ver seu amigo casando. E que estava repensando festa na igreja. Que momento para ele me dizer isso. Fiquei feliz claro. Mas nada era igual nesta noite. Nesse momento, do outro lado do salão, vi nossos olhos se cruzarem. O tremor aumentou. Eu já não conseguia me concentrar. O que eu deveria fazer agora? Ele tinha uma companheira e duas crianças se jogavam com tanta felicidade em seu colo. Seria justo uma família feliz se desfazer por um passado? E será que ele aceitaria criar uma terceira criança? Não acreditava que eu havia pensado nisso. Eu, grávida, pensando em cair nos braços de outro homem. Assim sem remorso. Será que o amor muda tanto assim nossa visão de realidade?

Jonas havia ido ao banheiro e eu estava sozinha. Com frio. Perdida. E eu o vi caminhar na minha direção. Decidi ir ao seu encontro. Tomei coragem. Era a hora.

***

 

Carlos e Fátima caminhavam um em direção ao outro. O salão apesar de espaçoso não era grande, porem para ambos pareciam quilômetros a serem percorridos. O tempo parecia passar mais rápido que o normal e ambos pensavam se o mundo havia parado para vê-los. Se alguém iria desconfiar daquele encontro prestes a acontecer. Perguntavam-se qual seria a primeira reação. O que iriam dizer um ao outro. E finalmente se encontraram tão perto que poderiam se tocar e Carlos disse:

- Boa noite.

- Boa noite. – respondeu Fátima.

Carlos continuou sua caminhada agora em direção aos seus amigos que estavam contando piadas em uma roda próxima. Fátima por sua vez continuou sua caminhada em direção à porta do banheiro masculino. E depois de tanto tempo de espera ambos pensaram ao mesmo tempo:

‘É tão ruim que a vida não é só o que queremos. Nada é tão simples.’

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