domingo, 30 de dezembro de 2012

mar, terra, ar, fogo

mar, terra, ar, fogo


Quisera eu ser um poeta do mar,
Que meus versos movessem-se, no tempo, como as marés
Que minhas rimas, salgadas e tristes e solitárias na imensidão,
Fizessem de mim um poeta do mar.

Quisera eu ser um poeta do mar,
E conhecer-me como nunca pude fazer em vida,
Ao reconhecer-me, um lusíada, como tantos patrícios,
Enamorar-me de quem é da terra, no mar.

Quisera eu ser um poeta da terra,
Extrapolar meus anseios, meu gozo, de pés descalços, em cartas ao Rei
Abdicar dos títulos, a – muito – sangue conquistados,
Fazendo-me, então, um poeta da terra.

Quisera eu ser um poeta da terra,
Defendendo o que, do meu peito verte, com o poder das palavras
Ter na pele, morena, às noites quentes, ou, sob o olhar do sol
Quem me dá de meu sangue, ao ar, a terra.

Quisera eu ser um poeta do ar,
Que a plumagem negra da graúna em meus braços, se coloram,
Levando, quem de dever, às alturas das nossas divindades,
Para viver ou morrer, no levante, como poeta do ar.

Quisera eu ser um poeta do ar,
E que meu sopro leve, leve pra longe a dor dos nossos povos
Como o cheiro do lírio leva o sofrer do coração dos artistas
Que tomados por uma faísca, se alimente do ar.

Quisera eu ser um poeta do fogo,
E que assim minhas ideias, meus amores e minhas paixões
Sirvam ao mundo como me serviram para ter um novo sorriso,
Que do meu interior, acendesse o poeta do fogo.

Quisera eu ser um poeta do fogo,
Cauterizando as feridas da falta de amor,
Queimando as bandeiras, derretendo grilhões entre os homens
Fazendo arder de prazer, como ardem os amantes,
E que para esse fim, eu só possa desejar,
_ Quisera eu, ser um poeta.

Rafael França

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Tenho

Tenho

Um pé de cigano, que corre o mundo
Um pé de bicho que agarra o chão
Duas pernas que me fazem vagabundo

Uma mão que acaricia, que não falta amor
Uma outra que aponta para os céus
Dois braços, que vazios, são pura dor

Um olho que testemunha maravilhas
Outro que renega o firmamento
Ambos, cuidam bem de suas filhas

Se vou, é por que não posso ficar
Se fico, renego meu prazer
O que ofereço ninguém pode levar
O que tomo, faço tudo tremer
E o firmamento, infinito, não me basta
É pequeno...

Rafael França, Rio de Janeiro, 19 de Dezembro de 2012

Um caminho

Um caminho

Eu vivo assim, só, só...
Não me siga, não me acompanhe
Sua esperança viraria pó!

Eu sigo assim, meu, meu...
Não pense 'nós', não se atacanhe
Nem sequer sonhe que sou teu.

Tirei até as meias, meias...
Para andar descalço, sentir a terra
Ando mais livre, de tantas teias.

Mas, vivo triste, triste...
Tenho um coração que berra,
Sem ti, nada me põe em riste.

Rafael França, primavera, 2012

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Zuza


No dia dez de outubro
Do ano de vinte e três
Nasceu José Alves de Oliveira
Cabra bom, firme na honradez.

De trabalho nunca fugiu
Me lembro com muita alegria
De seu carrinho de doces
Em frente ao cinema Olaria

Em vida teve cinco filhos
E outros tantos que a vida não viu
Do mundo só viram o ventre
de sua Josefa, arretada e servil

Carlos Alberto foi o primeiro
De quem as estórias são muitas
Não perdoava um rabo de saia
Seja moça, casada ou viúva

O tempo veio e o sossego também
Dois filhos apresentou a seu pai
O primeiro bisneto já vem
É o tempo que segue, segue e vai.

O segundo foi a primeira
E única filha mulher
Rosânia Maria é seu nome
Verdadeiro xodó de José

Com a sapiência que só o nordeste
Dá ao povo que de lá vai embora
Garantiu à filha estudos
Em meio à pobreza, muito embora

Dali, mais dois netos vieram
Dando sequência à vida
Somando a esta estória
Mais um sobrenome: Lima

Em seguida nasceu José Carlos
Para somar mais um Zé
Nesta famila tão rica de gente
Saúde, amizade e fé

Seguindo os passos do pai
Continuou ganhando o Brasil
Foi ao Sul fazer sua vida
Gostou, ficou, não saiu

Não esqueci que dali
Mais uma neta nasceu
Veio apressada ao mundo
Até esta José conheceu

Em quarto lugar no tempo
Primeiro lugar em alegria
Nasceu Paulo Roberto, Paulinho
Gigante em simpatia

Mais dois netos acrescentou
À contagem em que já me perco.
O segundo José viu de longe
Ao lado de seu padroeiro

Até que chegamos ao quinto
E este me dificultou a rima
Luiz Antônio, indeciso
Quase envergou a batina

Desistiu a tempo de dar
mais um neto a seu pai
Herdou os olhos da avó
E como joga, o rapaz!

Lembro, saudoso, até hoje
Me perguntou o pai do meu pai
Na última vez que o vi:
“- E a escola, como vai?”

Estas rimas terminam aqui
Quem quiser que bote mais uma
Muita coisa falta dizer
Sobre a vida do veio Zuza.

Houve um ladrão


O dia chegou anunciado
Sem dizer se vinha ao certo
Certo é que não mais espero
Pela chegada do que é caro

Não aguardo, mas quero
Não busco, rebato
Esta ali, tão perto
Nos olhos, regato

Mas deixo vir
Desconfiado
P’ra não repetir

O que não posso comprar
Moeda não há
Fui roubado, perdi.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Assim é a paixão ... (por Thiago Zefiro)



Prato Feito

Que delícia, a saborear
Outra vez e outras cousas
Queria-te, poder gozar.
Indagas-me : como ousas?

Canção mais descabida
Ouviria por toda vida
Se enchesses minha boca
Saciando a vontade louca

Que piegas, que jargão
Pareces nem seres poeta
Não valias um quinhão
não fosse por tua meta

Que é saciar-te a fome
Tens um cardápio completo
Pecas por teres em nome
O teu prato predileto.


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Fuga

Fuga (Rafael França)


Fujo, como o diabo da cruz
De ventos fortes, ventanias
Escondo-me na saia de mãe
Tremendo, sem pingo de valentia

Acovardo-me no escuro
Sem calor ou proteção
Evito contatos maiores
Não preciso revelação

Do mar, mantenho-me seco
O sal me afasta do rir
Ofego toda a respiração
Nem cheiro quero sentir

Não subo, não desço
Com passos curtos ando
Não pulo, não abaixo
Não tento, nem a mando

Não abuso da saúde
Tampouco da pouca sorte
Não desafio o tempo
Mas são olhos nos olhos da morte

A quem espera (Paulinho Cerezo)


A quem espera (Paulinho Cerezo)


Há sempre dias de ar retraído,
Desejosos em inocente candura:
Que, de toda a nossa doçura,
O âmago não tenha se esvaído.

Se, em acesso alheio de loucura,
Formos dignos de sermos queridos,
E nossos apelos, então, atendidos,
Fizerem dos sonhos terma procura:

Estejamos prontos, e não aturdidos,
Livres, de impedimentos despidos,
E de amor-próprio tenhamos fartura;

Que se encarregue de nós a ternura,
Afastando, assim, toda a agrura,
E sejamos, enfim, de amor embebidos!

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

31 de Outubro de 1902


Drummond (Rafael França)

Drummond, gostaria de lhe falar,
(Gostaria de ter podido lhe falar)
Que o que vens escrevendo, para mim,
Não há quem, algum dia, possa igualar

Não é pelo tanto de palavras bonitas
(São bonitas, suas palavras, um tanto)
Mas por como as faz desse jeito,
Como tira-lhes, em litros, o pranto

Gostaria de te escutar agradecer
(Como em seu sorriso, agradecia)
Pelas palavras que podia usar
Pelo que por ti, Itabira crescia

Se eu tivesse tido essa oportunidade
(Oportunidade, que com muita força agarraria)
Preocuparia-me com a alma dentro de seus olhos,
E com a de dentro dos meus, eu lhe agradeceria.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Atestado de óbito (Paulinho Cerezo)



Atestado de óbito (Paulinho Cerezo)

Quero renascer nesta terra,
Onde uns homens jogaram sal
Para não brotar mais nada.
Onde minha pátria foi escarnada,
Escarrada,
Expropriada,
Espancada, 
Exilada de si mesma,
E, extenuada, 
Tentou suicídio em tupi.

Ouvem-se muito mal 
Seus estertores,
Pois taparam-lhe a boca.
Seu leito de hospital 
É no meio do corredor, no chão.
No seu peito dá um comichão,
Mas não reage.
Seus olhos imploram pelo sacrifício,
Mas um comício eterno
É uma amostra inefável
Do seu inevitável inferno.
"A roupa do Diabo só pode ser terno",
Murmura,
Em um raro lampejo de consciência.
Depois olha em volta,
Com vergonha de alguém ter ouvido.

Uns fazem-lhe preces,
Outros pedem a extrema unção.
Uns querem o meio-termo:
Que fique só meio-viva
(Ou meio-morta, sem reação).

"Doença causada por parasitas",
Diagnostica um falso médico.
Que seja, é de graça!
- Tome, minha mãe, 
remédio de farinha: cura e alimenta;
sopa, sem sal, que o coração vai mal.
E ela se retorce,
Como quem nunca diz
Que está incomodado.
- Hoje tem futebol,
Ela sorriu, quase.

Amanhã vai acordar doendo,
Agonizando,
E morrendo,
E morrendo,
E morrendo,
Pelo infinito tempo
Em que viverão aqui os usurpadores,
Sobre o bendito solo que secaram
E malograram,
Onde eles arrancam de mamãe
Os pés de imbondeiro pela raiz.

Aliás, arrancam, não.

Mandam um negrinho fazê-lo,
Que dói muito as costas.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Idílio

Idílio


Que mesmo leve e tenro
Tem seu lado profundo
E mesmo com ar sereno
Podes me fugir ao mundo

Que tristeza, que tristeza!
Igual ontem, rio dessa dor
E assim, com tal delicadeza
Me tens, e matas, seu amor

(RR de França)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Púrpura

Púrpura


Perante ti me vestirei de realeza,
Tendo atravessado Universos
Sobrevivido à Natureza
Não vendido os meus versos

Por bravura e coragem e vontade
Sem temor ou remorso ou fraqueza

Banhado no sangue de Fafnir
Renegado o poder absoluto
Prometendo nunca partir
Nunca lhe deixar no escuro

Por inteligência e franqueza
Sem prepotência ou vaidade

Por amar-te sem privação
Vestir-me-ei de realeza
Com a púrpura do seu coração
E a permissão de sua beleza

Planeta Terra, 17 de Outubro do ano 2012 de Nosso Senhor.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

IN MEMORIAM



IN MEMORIAM
         O despertador tocou e, como já era de se esperar, Cláudio não apresentou qualquer reação. E não era um toque desses de hoje em dia, de telefones que têm-se visto por aí, não! Era uma daquelas relíquias, com dois apêndices côncavos prateados, no cimo do relógio, com um badalo no meio. Vermelho. De corda. Cláudio gosta de quinquilharias e objetos antigos.
Costuma chamar de retrô, ou vintage. Vê se pode! Ele guarda tudo amontoado em seu sujo e bagunçado quarto. Discos de vinil e um toca-fitas. Uma camiseta do fluminense, campeão carioca de 71 e um boné do Nigel Mansel. Um poster do Jaspion, um The best of the beast, um Rayito de Sol para os dias de praia e os K7’s do Saturday night fever, para o dia a dia. Todas as temporadas! Afinal, quase sempre, nunca ia à praia. Cria sua coleção de ácaros em livros e sempre que pode, passa uma vista no “Catcher”. Guarda com carinho um cachorrinho que anda, late e dá piruetas, trazido por seu pai numa de suas incursões ao Paraguai. Ele diz que o pai trabalhava com comércio exterior. Ah, o bom e velho (e mau) humor do Cláudio. Sempre exagerado. Na parede, um relógio que parece de pulso, só que gigante. Quando sai às ruas leva a tira-colo seu amigo inseparável: um indelével discman. Em seu porta-CD’s tinha desde Roberto Carlos até Megadeth. Às vezes levava na pochete mesmo, mas arranhava os CD’s. Não que ele se importasse. Tem um ótimo gosto musical e gosta muito de música. Anda impressionado com a péssima qualidade do que vem sendo lançado no mercado. Sente saudades do Backstreet Boys e do Biafra. De novo e bom, mesmo – “Só o Jorge !” – diz ele.
Naquele dia, Cláudio, que houvera pegado o mesmo ônibus, na mesma parada e no mesmo horário, chegou atrasado no trabalho; o que já era de praxe. Como sempre, levou um pito do patrão e deixou a suntuosa sala, cabisbaixo. Saiu resmungando, sentou-se em sua baia e continou seu serviço rotineiro. Dia desses me ligou – diga-se de passagem, seu telefone é daqueles de girar, lembra?  - para reclamar. Disse que sua vida anda um tédio, até que não anda. Parece ainda, que anda p’rá trás. Cláudio gosta mesmo é de guardar tudo que é velho.

Thiago Zefiro, Duque de Caxias, Dia das crianças, 2012.

terça-feira, 9 de outubro de 2012


Soneto do desprezo mútuo (Paulinho Cerezo)


Se há mais desprezada criatura,
Nenhuma, talvez, alada.
E os que por ti têm nada,
Carregam, ao menos, conjecturas:

Por conta de andares em bando,
Também de teu inegável abuso,
Do respeito, que caiu em desuso,
E da cloaca sempre apontando.

És temido em toda praça,
E se ouvem teu arrulho,
Já imaginam-se em desgraça;

Sopra o ar n´um mergulho,
Infla o peito de orgulho,
E caga no homem que passa.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

PROSA (Thiago Zefiro)

PROSA

Hoje em dia,
ninguém mais quer saber de poesia.
Nem a mãe, nem a vó e nem a tia
Nem a namorada, em noite fria
Quando a lua se enche em primazia.

Ora, não mais se faz a serenata
Sentimento caindo qual cascata
Não mais o romance que arde, mata
Mas que fere, ignora e destrata
amando qual fosse primata

Não mais a aurora brilhante,
Crescendo como semente
Os olhos rasos de água. Pura, limpa.
O amor.
Dos casais impossíveis,
Proibidos, pervertidos, amaldiçoados.
Mas que tinham finais felizes.
Numa noite de verão,
perdeu-se nas linhas profanas de uma prosa qualquer.

Thiago Zefiro

domingo, 7 de outubro de 2012

Adeus Rio


Adeus Rio

Adeus Rio, já não me mereces mais
Não mereces meu amor incondicional
Abstraiu-me a tranquilidade, a paz
Com seu belo Sol, estrela irracional

A Deus Rio, deves – e muito – agradecer
Sem Sua paixão por essa cidade
Estaria às traças, se vendo esmorecer
Por conta de pequenas vaidades

Adeus Rio, esses tantos com quem divido as ruas
Já não moram em meu coração, não me são semelhantes
Pois esses só a querem por luxo, sempre nua
Tiram-lhe o que de bom tem pra dar, como as amantes

A Deus, Rio, deves parar de zombar
Sua misericórdia, como no livro, tem limites
Não há de que, depois, se lamentar
Quando for devorado por seu próprio apetite

Adeus Rio, não é por Ti, ou suas belezas,
Delas jamais me cansarei, jamais me esquecerei,
É por seu povo, que esbanjará tristezas
Por eles já mais nada, nem um sorriso, aguentarei

A Deus Rio, tente não, novamente, suplicar
Seu povo fez a escolha, e pelo resultado
Uma escolha consciente, para não reclamar
Mesmo que doa, como no negro passado

A Deus Rio, para Seu lado hoje prefiro ir
Adeus Rio, não chore, ao me ver partir.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Bar Luiz II (ou O Almoço)


Sentei à mesa com olhos de criança
Na cadeira ao lado, meu passado
Dividimos a mesa com a esperança
De nada ter dessa vida apagado

Reencontrei velhos e queridos amigos
Ausentes, guardados na gaveta
Dividir tanta angustia eu só consigo
Com meu querido gravata-borboleta

Olhei ao redor, o que ainda não mudou
As mesmas portas, as mesmas paredes
Pintadas de lembranças, ninguém apagou
Pra nunca afastar este assíduo hóspede

Pedi o cardápio, por pura bobagem
Para me sentir, quem sabe, patrão
Mas, como sempre, não tive coragem
Fui servido com o que me era padrão

Não daria para reclamar, sequer,
Esse prato me agrada demasiado
Garfadas, goles, risos de mulher
Por momentos, me alimento calado

Uma mão no bolso, uma ao céu
Mais um gole de infância perdida
Deixei um extra, é o meu papel
Levanto-me, e volto à minha Vida.

Rua da Carioca 39, Rio de Janeiro, 05/10/2012

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Tolo na colina


Como por um triste acaso
Nasceu ali, naquela colina
Quem, sem sair do lugar,
Sem virar, ao menos, uma esquina

Mudou o mundo, mudou tudo

Naquele topo de terra
Com os olhos castigados
Enxergava além, pensava além,
E com olhos marejados

Mudou o mundo, mudou tudo

Chamaram-lhe de tolo
Queixaram-se por despeito
Não perceberam
O que por fim havia feito

Mudou o mundo, mudou tudo

O Sol que todo dia via nascer
O mesmo Sol de todo dia a se pôr
Ensinou-lhe a ter alma
Algo perdido nesse mundo de dor

Mudou o mundo, mudou tudo

Não entendiam o por quê
Nunca saiu, Nunca desceu
Não entendiam o valor
De um homem ter o que é seu

Mudou o mundo, mudou tudo

Perguntaram-lhe por vezes
Inumeras, o por que dessa prisão
O por que do auto exílio
A resposta nunca mudou, o coração

Mudou o mundo, mudou tudo

Naquela colina, ele nasceu,
Cresceu  e acabou morrendo
Ali, sem remorso algum
O Tolo morreu aprendendo

Mudou o mundo, mudou tudo

Que para mudar o mundo
Para não sentir tanta dor
Tem-se que se entregar
Vê-lo e senti-lo girar em seu esplendor

E a resposta a pergunta de todos
Jamais haveria de mudar
Conhece o mundo, conhece a si mesmo
E só assim poderá, de verdade, amar.

E, mudou seu próprio mundo, mudou seu próprio tudo.

Rafael França, 26/09/2012

sábado, 22 de setembro de 2012

Literal


Escrevo poesias por que gosto
Gosto de idéias no papel
De ver a tinta vazar da caneta
Gosto, muito, dos sentimentos afora
Em pedaços de literatura


Não o faço por ofício
Isso de nada me adiantaria
Não tenho vocação profissional
Uso o coração, para o que serve
Viver, chorar, amar, ser amado

Meu interesse é estético
Às vezes até mesmo literal
Eu sinto em versos
Amo em estrofes
Sofro em rimas tantas
Regozijo-me em palavras
Eu morro em métricas

Satisfaço-me em rimar
Com a dificuldade de achar
boas letras pra cada batimento
Boas rimas praquele tempo
Praquele templo em corpos
Distintos e inseparáveis

Se ponho em língua minha dor
Em ritmo decassílabo o prazer
Em redondilhas a saudade
também ponho na ponta do lápis
O presente, o passado,
E por vezes, porei o futuro...

Vale-me dizer que de tanto ler
Hoje escrevo para não apagar
Da memória o que presenciei
O que toquei, cheirei, provei, ouvi
Largo com fúria sobre a pena
Tudo aquilo que, dia, intuí.

(Rafael França, Rio de Janeiro, 21 de Setembro de 2012, Século XXI)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Blackjack



Boa noite, é o que vos deixo.
Madrugada e  já vou indo.
Buscando sonhar os sonhos.
Juntos. Lúcidos. Lindos.

Vou-me aos braços de Morfeu
Que me ilude, em forma assaz
Como se fosse a amada
Que tanto me satisfaz

Piso em falso e sigo em queda
Qual água que corre macia
Deixo levar-me a cascata
Ludibriado em fantasia.

Salvo por sabedoria mor,
De uma ave de rapina.
Era Ícelo, criou asas.
Fria coruja, assassina.

Me matou até os sonhos,
Sequer pude despedir
Dos vizinhos, das crianças
Nem sequer um “bon nuit”.

Thiago Zefiro

Paroxitonos


Nascido
Puro
Cuidado

Jovem
Bobo
Ousado

Adulto
Sério
Quadrado

Velho
Leso
Usado

Nascido
Inocente
Adaptável

Jovem
Louco
Inflamável

Adulto
Labuta
Incansável

Velho
Probo
Inevitável

Infância
Brincadeira
Felicidade

Juventude
Besteira
Irresponsabilidade

Feito
Futuro
Possibilidade

Velhice
Passado
Saudade

Nascido
Crescido
Vivido
Esquecido!